segunda-feira, 30 de maio de 2016

"Deus também é Mulher!"

Da série: "O vendedor de livros"



Eu estava vendendo meus livros na rua.
Em um momento, juntou um grupo de meninos.
Senti que eles estranhavam - e ironizavam - minhas roupas coloridas.

Cantei:
Ser um homem feminino
não fere o meu lado masculino.
Se Deus é menina e menino,
sou o masculino-feminino!

Um dos meninos disse que Deus não podia ser menina.
Deus era Homem!

Eu disse que Deus era uma grande sacola
de onde tudo tinha vindo.
Um dia, as coisas que existiam dentro da sacola
sentiram uma vontade muito grande de nascer.
A vontade foi tão grande que a sacola explodiu!
E foi assim que tudo nasceu...

Contei essa história e acrescentei:
"Deus é uma sacola 
e a palavra "sacola" é feminina.
Portanto... Deus também pode ser Mulher!"

Os meninos ficaram pensando...´

Eu também! 
Pensei na força que uma história pode ter
ao trazer imagens que questionem "verdades absolutas",
que afirmem outras lógicas, sensibilidades, possibilidades...


sexta-feira, 27 de maio de 2016

"Prestação de contas"

Clarice Lispector dizia que era “pessoa muito ocupada”, pois tomava conta do mundo. Só não sabia a quem prestar contas...

Eugênio Barba, na sua “Carta ao ator D.” escreveu que cada representação poderia ser a última e que o ator deveria considerá-la como "sua possibilidade de reencontrar-se, dirigindo aos outros a prestação de contas de seus atos, seu testamento”.

Estou aqui prestando contas, meu testamento vivo!!!

Prestar contas é minha “servidão voluntária”, que eu escolho fazer em forma de poesia.
Não poesia-literária, somente...

POESIA-ARTE!!!   POESIA-VIDA!!!


quinta-feira, 26 de maio de 2016

Carta ao ator D. (Eugênio Barba)

Alguns trechos da Carta ao ator D.
de Eugênio Barba:

“Deve aceitar que tudo no que você acredita, 
no que você dá liberdade e forma no seu trabalho, 
pertence à vida e merece respeito e proteção. [...] 

Isso pressupõe coragem: 
a maioria das pessoas não têm necessidade de nós. 

[...] Seu trabalho 
é uma forma de meditação social sobre si mesmo, 
sobre sua condição humana numa sociedade 
e sobre os acontecimentos de nosso tempo 
que tocam o mais profundo de si mesmo. 

Cada representação neste teatro precário, 
que se choca contra o pragmatismo cotidiano, 
pode ser a última. 
E você deve considerá-la como tal, 
como sua possibilidade de reencontrar-se, 
dirigindo aos outros a prestação de contas de seus atos, 
seu testamento”.


Penso: um testamento de vida, em vida.




A "Carta ao ator D." faz parte do livro
"Além das ilhas flutuantes", de Eugênio Barba.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Ministério da Cultura - MinC

Nestes dias sombrios,
resgato essas palavras de Gilberto Gil 
quando assumiu o Ministério da Cultura em 2003:

“Quero o Ministério presente em todos os cantos e recantos de nosso país. Quero que esta aqui seja a casa de todos os que pensam e fazem o país. Que seja, realmente, a casa da cultura brasileira. E o que entendo por cultura vai muito além do âmbito restrito e restritivo das concepções acadêmicas, ou dos ritos e da liturgia de uma suposta ‘classe artística e intelectual’. [...] Cultura como usina de símbolos de um povo. Cultura como conjunto de signos de cada comunidade e de toda a nação. Cultura como o sentido de nossos atos, a soma de nossos gestos, o senso de nossos jeitos.

[...] O Estado não deve deixar de agir. Não deve optar pela omissão. Não deve atirar fora de seus ombros a responsabilidade pela formulação e execução de políticas públicas, apostando todas as suas fichas em mecanismos fiscais e assim entregando a política cultural aos caprichos do deus-mercado. [...] O mercado não é tudo. Não será nunca.

[...] A multiplicidade cultural brasileira é um fato. Somos um povo mestiço que vem criando, ao longo dos séculos, uma cultura essencialmente sincrética. Uma cultura diversificada, plural, mas que é como um verbo que é conjugado por pessoas diversas, em tempos e modos distintos.

[...] Aqui será o espaço da experimentação de rumos novos. O espaço da abertura para a criatividade popular e para as novas linguagens. O espaço da disponibilidade para a aventura e a ousadia. O espaço da memória e da invenção”.

Enquanto isso, na Idade Média...

"Excomungado e vilipendiado pelas autoridades civis e eclesiásticas, o ator, com sua inesgotável arte de fabular, escondendo-se pelas praças e pelas cortes, pelos castelos e, inclusive, pelas igrejas, vai preservar sub-repticiamente a semente imorredoura do teatro".

(Ênio Carvalho - História e formação do ator)