domingo, 2 de setembro de 2012

A arte de ouvir e contar histórias (UNIP)

Em setembro de 2012, fui convidado para ministrar uma aula na disciplina "A arte de ouvir e contar histórias: o poder da palavra oral e escrita" no Curso de Especialização em Mitologia Criativa, Contos de Fada e Psicologia Analítica da UNIP-SP.


Turma 2012 - 2013

A primeira coisa que me chamou a atenção foi a presença do verbo "ouvir" no título da disciplina: o ouvir como uma arte tão importante quanto o próprio contar. Isso me fez lembrar do que o griot Hassane Kouyaté disse na oficina "Iniciação ao conto", durante o IV Boca do Céu - Encontro Internacional de Contadores de Histórias (São Paulo, maio de 2010): "muitas vezes escutar é um ato mais generoso do que contar; a mão que recebe quase sempre está um pouco mais abaixo da mão que dá".

Nessa mesma oficina, Hassane aconselhou aos contadores algumas "perguntas importantes":
  • quem sou eu?
  • por que quero contar?
  • que tipo de contos posso carregar?
  • para que pessoas quero dar esses contos?
  • em que lugar?
  • que meios tenho para contar?

Inspirado nessas perguntas e em vivências sobre experiências significativas, propus que cada participante lembrasse de um contador de histórias marcante em sua vida (incluindo o tempo presente): quem era? que tipo de histórias contava? em que momentos? o que usava para contar? o que essas histórias provocava?

Cada um lembrou, contou e ouviu. Todos nós, contadores e ouvintes. Os relatos trouxeram tantos tipos de histórias, contadas com recursos tão variados, em contextos tão diversos! Nesse sentido, considero a própria história de vida como o primeiro repertório de todo contador de histórias; a fonte principal de onde emergem suas motivações, novos repertórios e, inclusive, os recursos expressivos que ele tem para contar.

Considero também que contribuir para a formação de um contador de histórias não é enchê-lo friamente de técnicas e repertórios, e sim sensibilizá-lo para perceber as histórias que já permeiam sua memória, seu imaginário, bem como os recursos que já possui (ou tem vontade de aprender), em sintonia com sua própria expressão, sua comunicação, a relação que estabelece com a história contada e com o público com que deseja dialogar.

Lembro também do músico e narrador canadense Robert Seven Crows que, na oficina "A tradição oral de contar histórias", disse que contar histórias era algo muito simples, e que muitos contadores  se esqueciam justamente do mais simples: respirar e olhar nos olhos das pessoas.

Para refletirmos sobre o poder da palavra oral, e também sobre interesses políticos que há séculos tentam calar e menosprezar tantas culturas orais, assistimos ao vídeo Mbarata - a palavra que age, de Edgar Teodoro da Cunha, Gianni Puzzo e Spensy Pimentel.

"E diziam os mais antigos: 'O que sabemos é um para o outro'".

"E assim acontece com todas as palavras que pronunciamos".

O vídeo pode ser assistido no endereço abaixo:


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